segunda-feira, 25 de outubro de 2010

BATE PAPO DE ESCOLA BÍBLICA (LEIA-SE IGREJA BATISTA DO PINHEIRO)


IGREJA E A UNIDADE DOS CRISTÃOS

Por Johndalison Tenório da Silva


INTRODUÇÃO

Disse-lhe João: “Mestre, vimos alguém que não nos segue, expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque não nos seguia”. Jesus porem disse: “Não o impeçais, pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós” (Mc 9.38-40).
O tema Igreja e a Unidade dos Cristãos é uma proposta, provocada pela nossa Prª. Odja Barros para se discutir um pouco sobre ecumenismo e diálogo religioso, minha sugestão é partirmos do seguintes tópicos:
1.                   Que tipo de envolvimento nós queremos ter, como Comunidade, com o ecumenismo?
2.                   Qual a aproximação nós queremos ter com o diálogo religioso (diálogo inter-religioso)?
Quero começa essa conversa com vocês a partir dessas provocações! Não é minha intensão trazer respostas prontas, mas sim, que vocês possam debater o máximo que puderem, para daí surgir algumas possíveis respostas nascidas do consenso, se assim acharem por bem, é claro!
Antes de qualquer coisa, só terá sentido em prosseguir se procurarmos saber o que é ecumenismo e também, saber um pouco, o que seja diálogo religioso.
·                     O Dicionário Aurélio define ecumenismo como movimento que visa à unificação das igrejas cristãs (católica, ortodoxa e protestante);
·                     No Dicionário Houaiss:1 - Movimento favorável à união de todas as igrejas cristãs; 2 - Apelo à unidade de todos os povos contido na mensagem do Evangelho;
·                     A definição eclesiástica, mais abrangente, diz que é a aproximação, a cooperação, a busca fraterna da superação das divisões entre as diferentes igrejas cristãs. Pode-se dizer que o ecumenismo é um movimento entre diversas denominações cristãs na busca do diálogo e cooperação comum, buscando superar as divergências históricas e culturais;
·                     Numa edição especial, a revista Sem Fronteiras (As Grandes Religiões do Mundo, p. 36) descreve o ecumenismo como um movimento que se preocupa com as divisões entre as várias Igrejas cristãs. E explica: Trabalha-se para que estas divisões sejam superadas de forma que se possa realizar o desejo de Jesus Cristo: de que todos os seus seguidores estivessem unidos, assim como Ele e o Pai são um só[i];
·                     Diálogo religioso - É o nome dado, em especial pelas igrejas cristãs, para as suas relações com outras matrizes religiosas. O diálogo religioso é um dos grandes desafios que se apresentam à Igreja, de um modo particular no mundo de hoje, tanto para os que a aprovam como os que dela discordam;
·                     O diálogo religioso pode ser compreendido como o respeito perante outras religiões, o respeito pela escolha de uma matriz religiosa e o respeito no convívio com os que professam e confessam crenças diferentes e discordantes. É o entendimento com os que escolhem uma religião diferente da nossa, tolerância e aceitação mutuas são bases dessa conviência.
Há alguma confusão quando se trata do assunto ecumenismo. É muito comum comparar uma opção ecumênica com o trânsito religioso. Certo entrevistado no Programa do Jô disse ser: Judeu de nascimento, católico de confissão e umbandista de prática. Esse ecletismo religioso, não pode ser considerado ecumenismo. No máximo é uma identidade de dupla ou de multipla pertença relgiosa[ii].
No caso onde estamos nos debruçando, ecumenismo e diálogo religioso são duas formas distintas de convívio religiso e de cerimônia entre comunidades com diferentes profissões de fé. Quando se partica de um culto ecumênico deve se entender que ali está sendo realizada uma celebração onde estão participanto dela, vários recortes do cristianismo. Quando se está participando de uma celebração inter-religiosa, deve se entender que ali se realiza uma cerimônia onde participam várias religiões diferentes. Essas duas formas de relacionamento religioso, tem em comum propostas como: Exercitar a tolerância, alargar a compreensão religiosa, promover odiálogo com o diferente.
Dito essas coisas continuemos... “Puxar a brasa para a nossa sardinha” não é nenhuma novidade no meio cristão. O “ciúme” pelo poder está presente em todos os aspectos da humanidade. Na religião esse “cuidado” se expressa com uma exposição e força peculiares. É comum o sagrado tornar-se um objeto e o divino uma oportunidade de se sobrepor ao outro, ao estranho, ao forasteiro, ao diferente. Movimentos ou instituições religiosas são resguardados constantemente pelos que acreditam que não há outra “verdade” além da sua.
Na caminhada com Jesus, João fazia isso. Em Lucas. 9:54, temos mais um relato da posição, digamos zelosa, assumida pelo “discípulo amado”. Mas ele não foi o único! No Antigo Testamento, em Números 11:23-29, temos o relato da reação de Josué ao saber que outros onde não fora “derramado” o Espírito de Deus, profetizava no meio do povo. Outros exemplos de extremo zelo religioso pelo sagrado, dessa vez, menos misericordiosos por parte dos autores sacerdotais. São eles: Lv. 10:1-2 e I Cr. 13.8-10.
Pergunta:          A adoração de Nadab e Abiú ou a dedicação do desatento Uzá, não eram dignas do Altíssimo?
Voltando para o texto de Marcos 9.38-40. Se observarmos o contexto da época com os “óculos” dos religiosos judeus, iremos perceber que o ministério de Jesus não passava de mais um dos muitos movimentos de milagreiros marginalizado de seu tempo. Sim! Havia outros e outras (as parteiras e curandeiras, por exemplo) que também faziam maravilhas no meio do povo. Podemos identificar duas intenções por trás dessas práticas. A primeira era o lucrativo comércio das práticas medicinais, já que era uma atividade cara e para poucos (Mc. 5:25,26); A segunda é o curandeirismo mágico que arrebanhava seguidores. E nesses casos, as únicas ações de saúde que o povo dispunha saiam dessas pessoas, já que eram desassistidos tanto pelo judaísmo, quanto por Erodes e César (diga-se, o Estado). Jesus estava defendendo esse grupo de milagreiros e milagreiras, na parte final do versículo 39. Enquanto isso, os discípulos estavam preocupados em manter a exclusividade, proibindo quem não era do grupo dos doze a usar o nome de Jesus, pois somente esses haviam recebido o poder direto do Mestre. Eles estavam reproduzindo o que faziam os escribas e fariseus, como no episódio de Mt. 12:9-14. Competir com os sacerdotes de Jeová fazendo milagres no Sábado era uma infâmia.
Pergunta:
Por que expulsar demônios e curar em nome de Jesus de Nazaré eram privilégios únicos e exclusivos dos doze discípulos?
DOIS OLHARES
Tem se repetindo um olhar para os textos bíblicos, como os dos exemplos acima, que defende os autores sacerdotais do AT e o “Discípulo amado”, afirmando que eles estavam sim, querendo mostrar que há diferença entre o santo do ímpio, o sagrado do mundano, o puro do impuro. Esse olhar pertence a corrente mais comum presente em nosso meio cristão. Ele propõe o distanciamento, a separação, a alienação, ou seja, o não convívio com quem não foi “alcançado”, “contemplado”, “santificado”. Há uma frase exclusivista muito comum nos púlpitos, ensinos bíblicos e exortações dos que defendem esse conceito: “Ser santo é ser separado!”
Pergunta: O que significa a final ser santo?
Há outro olhar! O da inclusão que acontece em qualquer tempo bíblico! Os exemplos, no AT de Moisés e o de Jesus no NT são prova disso. Ambos fazem o pedagógico ajuste de pensamento e postura em seus fiéis “escudeiros”, que nesses exemplos são Josué e João. Esse ajuste se chama inclusão, aceitação, participação. Esses textos também nos ajustam diante das diferentes maneiras de se professar a fé cristã. Há também o relato contido em Atos capítulo 10 mostrando que a experiência vivida por Pedro, prova como é difícil perceber e aceitar que há outros e outras com experiências religiosas tão legítimas quanto as nossas (At. 10: 28).
Pergunta:          Por que se torna difícil enxergar o movimento do Espirito Santo de Deus em quem não está incluso ou não professa a mesma fé que a minha ou da minha comunidade?

BREVÍSSIMO RELATO DA TRAJETÓRIA EXCLUSIVISTA CRISTÃ
A proposta de inclusão de Jesus não foi entendida pelos seus discípulos e seguidores, desde os primeiros momentos do movimento cristão. Tomemos como exemplo, Atos capítulo 6. Nas comunidades paulinas havia o problema dos judaizantes. Depois da execução de Paulo, elas estraram em disputas internas por hierarquia e disputas externas por divergência doutrinárias. Mesmo em meio às perseguições do judaísmo e de César, essas comunidades estavam absorvendo e repetindo os conceitos socioculturais da época, tais como: O patriarcalismo e o escravismo. Quando se compara alguns textos de Paulo, vemos a diferença de um para o outro, como por exemplo, no trato para com a mulher, ou o grau de importância dos Carismas da Igreja. Um pouco mais a frente, aparece o cristianismo estatal de Constantino que maquiou a Igreja com as cores do Estado Romano e negociou poderes governamentais entre as lideranças cristãs, em favor da hegemonia política do Império. Os cristãos de perseguidos passaram a perseguir. A Igreja oprimida que acolhia todos e todas, oprimiu, sufocou e excomungou os movimentos julgados “heréticos” que surgiram de tempos em tempos. Avançando, encontramos os combates ferozes de cruzados contra os mulçumanos que banharam de sangue o primeiro milênio da era cristã. Mais adiante, no início do movimento humanista, é que acontece a “Reforma Protestante” do agostiniano Martinho Lutero. Dentro da própria trajetória dos protestantes, a morte era o prêmio dos contrários a “ordem”. Os anabatistas foram um exemplo marcante dessa conduta. A Reforma e a Contra reforma é a ultima e permanente desavença entre os cristãos protestantes e católicos até hoje.
Quero terminar o relato desses retalhos da história de separação e de “exclusividade santa” com uma característica do cristianismo no Brasil. Somos herdeiros diretos dessa disputa e conduta. A nossa cultura evangélica foi forjada no fogo do anticatolicismo[iii], os católicos tiveram a hegemonia religiosa do País por quase quinhentos anos, mesmo após o Brasil se tornar um estado laico, a influência católica estava presente em todas as esferas de poder do Estado Brasileiro. Nossas origens evangélicas foram escritas pelos missionários peregrinos e sua luta fundamentalista contras as forças de Satanás e da igreja católica, perseguidora dos “crentes". Hoje estamos em outro momento histórico. Mas ainda continua o fomento de muitos líderes cristãos evangélicos, que não passaram por nenhuma das perseguições desse nosso passado próximo, e a perpetuar a demonização da Igreja Católica e condenar nossos irmãos e irmãs por suas práticas, rituais e litúrgicas. É de se esperar que tal “gentileza” seja retribuída com mesma paga. Há também uma ala na igreja católica que ainda faz críticas e combate as “seitas separatistas evangélicas”[iv].
Como se tudo isso não fosse o bastante, ainda há os que afirmam serem os verdadeiros seguidores do Senhor Jesus. Os felizes possuidores do galardão celestial. O caldeirão tá cheio, mas ainda cabe mais! Novas denominações e movimentos cristãos surgem. Cada um mais pertinho do céu do que o outro! Mas todos bem distantes do ecumenismo ou de qualquer diálogo religioso. Por outro lado a Igreja católica, de olho na migração de seus fiéis para esses pedacinhos dos céus, contra-ataca com novas roupagens de sua fé. E ambos, os lados usando todos os meios à disposição como, por exemplo, as mídias de massa: Jornais, rádio, televisão e internet. Há algum tempo atrás esses veículos de comunicação eram chamados de caixinhas do diabo! E agora são...
Pergunta:          Não se consegue enxergar outra maneira de adoração, dedicação, serviço, voluntariado, se não for do nosso jeito?!
Pergunta:          Cruz e crucifixo tem Jesus como intercesão?
O ENVOLVIMENTO COM O ECUMENISMO
Para partimos, propriamente dito, do ponto que acredito ser o tronco principal desse texto, vou fazer uma tentativa de abordar panoramicamente o movimento ecumênico, até chegar o mais próximo de nossa comunidade local.
O movimento ecumênico recente tem sua origem nos meados do Séc. XIX pelos protestantes Ingleses. Em 1846, foi criada em Londres a Aliança Evangélica, com a finalidade de congregar as diversas igrejas diante da ameaça de fragmentação do protestantismo. No âmbito católico, o papa Leão XIII promulga a encíclica “Provida Mater Ecclesia” pela reconciliação dos cristãos. Em 1908 nos Estados Unidos é criado o Conselho Nacional das Igrejas. Em 1948 é fundado o Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
O CMI, se reune a cada sete anos, em 1991, em Camberra, Austrália, reuniu mais de 300 Igrejas cristãs e denominações de todo o mundo. É a principal organização ecumênica em nível internacional representando mais de 500 milhões de fiéis presentes em mais de 120 países. O Moderador do Comitê Central é Walter Altmann, brasileiro e luterano, eleito após a IX Assembléia Geral, que foi realizada em Porto Alegre, em fevereiro de 2006. A Rvdª. Ofélia Ortega, da Igreja Presbiteriana Reformada de Cuba, foi eleita presidente do CMI para América Latina e Caribe.
Entre seus membros estão igrejas protestantes e ortodoxas, também algumas pentecostais e independentes. Aliança Batista Mundial, da qual a Convenção Batista Brasileira – CBB é filiada, integra o CMI. A Igreja Católica não faz parte desta organização, mas tem com ela um grupo de trabalho permanente e participa como membro pleno de alguns departamentos, como na Comissão de Fé e Ordem e na Comissão de Missão e Evangelismo.
No Brasil existem vários organismos de natureza ecumênica. O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) é um dos mais importantes e foi fundado em novembro de 1982, com sede em Brasília. Seus membros são: “Igreja Católica Apostólica romana, Igreja Cristã Reformada, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Metodista, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil”. A Convenção Batista Brasileira – CBB não participa de nenhuma organização ecumênica no Brasil. Posição que as Convenções Estaduais mantêm. A participação batista nesses organismos se restringe a poucas igrejas, pastores e pastoras. O único organismo ecumênico batista é a Aliança de Batistas do Brasil. A Igreja Batista do Pinheiro é membro da Aliança de Batistas do Brasil e seu ingresso foi aprovado em assembleia regular. Visto que oficialmente já temos uma posição ecumênica, cabe agora alargar os debates entre vocês participantes da Escola Bíblica da IBP. O propósito desse texto vem para provocar a sua posição em relação ao nosso envolvimento com a causa ecumênica.
Perguntas:
Qual o envolvimento da Comunidade da IBP quer ter com o ecumenismo?
Corremos o risco de perder nossa identidade?
A APROXIMAÇÃO COM O DIÁLOGO RELIGIOSO
O respeito à expressão religiosa. Esse é o eixo central do diálogo religioso. Suas fundamentações estão no exercício da prática do respeito à posição do outro. Temos todo o direito de não aceitar o ponto de vista e de discordar, preferencialmente, com uma respeitosa e fundamentada argumentação do modo como o outro assume sua crença religiosa. Mas digo, que em ultima análise, temos o dever de respeitar a forma como o outro optou sua religiosidade e práticas litúrgicas. O diálogo religioso é em profundidade uma descoberta ao outro. A possibilidade de troca de experiência com o divino no convívio das comunidadades é impressionante. Perceber a fé e a devoção de outros fiéis, não pode ser vista como um engano, mas sim identificação, afinidade, escolha. Os cristãos se arvoram de serem os detentores da verdade e caminho únicos (Jo. 14.6)! Usando versiculos isolados, como esse vão de encontro à religiosidade diferente. Atropela a liberdade do outro, e assim vai cooptando novos adéptos. Há muito mais uma preocupação expancionista do cristianismo, impregnado de preconceito, cultural, racial e principalmente religioso, do que perceber os valores do Reino de Deus em outras religiões. Promover atividades conjuntas de credos diversos, vão muito mais do que celebrações inter-religiosas. Mas, para muitas igrejas cristãs esse é o limite da proximidade do diálogo religioso. E isso tem cheiro de hipocrisia xenofóbica[v] Se teme ser invadio ou contaminado com a fé alheia. Um efetivo diálogo religioso começa com a coragem de fazer contato e de propor em ações em favor dos excluídos em qualquer situação. Em favor da valorização da vida e em favor de mobilizações que beneficiem a sociedade local onde essas comunidades de fé estão inseridas.
Perguntas:
O ato de evangelhizar é “levar” Jesus Cristo o redentor filho de Deus para o incrédulo?
As outras formas que não sejam a nossa religiosidade terão seus adeptos condenados eternamente no inferno por não terem sido alcançados pela a salvação?!
O que é salvação mesmo? Bem, essa pergunta fica para outra conversa!


REFERÊNCIAS
Aurélio Dicionário Eletrônico
Houaiss 3 – Dicionário Eletrônico
http://www.aliancadebatistas.com.br
http://www.cienciaefe.org.br
http://www.jesussite.com.br















[i] Revista Sem Fronteiras, 250 - Ecumenismo cresce e muda história - p. 18.
[ii] É o transito religioso que um indivíduo faz ao migrar a uma nova prática mais confortável, desencadeando um processo de desfiliação em que as pertenças sociais e culturais do indivíduo, inclusive as religiosas, tornam-se opcionais e, mais que isso, revisáveis.”
                                                                                                              PIERUCCI, A.F. A encruzilhada da fé.
[iii] O anticatolicismo é uma forma de discriminação, de hostilidade ou preconceito contra a Igreja Católica Romana.
[iv][iv] A Igreja Católica Apostólica Romana crê que a Reforma Protestante, foi um movimento separatista chamado de: A Segunda Grande Cisma Cristã. E dele nasceu várias seitas cristãs.
[v] Houaiss – Adjetivo que demonstra temor, aversão ou ódio aos estrangeiros, ou à cultura estrangeira.

domingo, 19 de setembro de 2010

PRONUNCIAMENTO DA ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL

PRONUNCIAMENTO DA ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL
ELEIÇÕES 2010
                A Aliança de Batistas do Brasil vem por meio deste documento reafirmar o compromisso histórico dos batistas, em todo o mundo, com a liberdade de consciência em matéria de religião, política e cidadania. A paixão pela liberdade faz com que, como batistas, sejamos um povo marcado pela pluralidade teológica, eclesiológica e ideológica, sem prejuízo de nossa identidade. Dessa forma, ninguém pode se sentir autorizado a falar como “a voz batista”, a menos que isso lhe seja facultado pelos meios burocráticos e democráticos de nossa engrenagem denominacional.
Em nome da liberdade e da pluralidade batistas, portanto, a Aliança de Batistas do Brasil torna pública sua repulsa a toda estratégia político-religiosa de “demonização do Partido dos Trabalhadores do Brasil” (doravante PT). Nesse sentido, a intenção do presente documento é deixar claro à sociedade brasileira duas coisas: (1) mostrar que tais discursos de demonização do PT não representam o que se poderia conceber como o pensamento dos batistas brasileiros, mas somente um posicionamento muito pontual e situado; (2) e tornar notório que, como batistas brasileiros, as idéias aqui defendidas são tão batistas quanto as que estão sendo relativizadas.
1. A Aliança de Batistas do Brasil é uma entidade ecumênica e dedicada, entre outras tarefas, ao diálogo constante com irmãos e irmãs de outras tradições cristãs e religiosas. Compreendemos que tal posicionamento não fere nossa identidade. Do contrário, reafirma-a enquanto membro do Corpo de Cristo, misteriosamente Uno e Diverso. Assim, consideramos vergonhoso que pastores e igrejas batistas histórica e tradicionalmente anticatólicos, além de serem caracterizados por práticas proselitistas frente a irmãos e irmãs de outras tradições religiosas de nosso país, professem no presente momento a participação em coalizões religiosas de composição profundamente suspeita do ponto de vista moral, cujos fins dizem respeito ao destino político do Brasil. Vigoraria aí o princípio apontado por Rubem Alves (1987, p. 27-28) de que “em tempos difíceis os inimigos fazem as pazes”? Com o exposto, desejamos fazer notória a separação entre os interesses ideológicos de tais coalizões e os valores radicados no Evangelho. Por não representarem a prática cotidiana de grande fração de pastores e igrejas batistas brasileiras, tais coalizões deixam claro sua intenção e seu fundo ideológico, porém, bem pouco evangélico. Logrado o êxito buscado, as igrejas e os pastores batistas comprometidos com as coalizões “antipetistas” dariam continuidade à prática ecumênica e ao diálogo fraterno com a Igreja Católica, assim como com as demais denominações evangélicas e tradições religiosas brasileiras? Ou logrado o êxito perseguido, tais igrejas e pastores retornariam à postura de gueto e proselitismo que lhes marcam histórica e tradicionalmente?
2. Como entidade preocupada e atuante em face da injustiça social que campeia em nosso país desde seu “descobrimento”, a Aliança de Batistas do Brasil sente-se na obrigação de contradizer o discurso que atribui ao PT a emergente “legalização da iniqüidade”. Consideramos muito estranho que discursos como esse tenham aparecido somente agora, 30 anos depois de posicionamentos silenciosos e marcados por uma profunda e vergonhosa omissão diante da opressão e da violência a liberdades civis, sobretudo durante a ditadura militar (1964-1985). Estranhamos ainda que tais discursos se irmanem com grupos e figuras do universo político-evangélico maculadas pelo dinheiro na cueca em Brasília, além da fatídica oração ao “Senhor” (Mamon?). Estranhamos ainda que tais discursos não denunciem a fome, o acúmulo de riqueza e de terras no Brasil (cf. Isaías 5,8), a pedofilia no meio católico e entre pastores protestantes, como iniquidades há tempos institucionalizadas entre nós. Estranhamos ainda que tais discursos somente agora notem a possibilidade da legalização da iniquidade nas instituições governamentais, e faça vistas grossas para a fatídica política neoliberal de FHC, além da compra do congresso para aprovar a reeleição. Estranhamos que tais discursos não considerem nossos códigos penal e tributário como iniqüidades institucionalizadas. Os exemplos de como a iniqüidade está radicalmente institucionalizada entre nós são tantos que seriam extenuantes. Certamente para quem se domesticou a ver nas injustiças sociais de nosso Brasil um fato “natural”, ou mesmo como a “vontade de Deus”, nada do mencionado antes parece ser iníquo. Infelizmente!
3. Como entidade identificada com o rigor da crítica e da autocrítica, desejamos expressar nosso descontentamento com a manipulação de imagens e de informações retalhadas, organizadas como apelo emocional e ideológico que mais falseia a realidade do que a apreende ou a esclarece. Textos, vídeos, e outros recursos de comunicação de massa, devem ser criteriosamente avaliados. Os discursos difamatórios tais como os que se dirigem agora contra o PT quase sempre se caracterizam por exemplos isolados recortados da realidade. Quase sempre, tais exemplos não são representativos da totalidade dos grupos e das ideologias envolvidas. Dito de forma simples: uma das armas prediletas da difamação é a manipulação, que se dá quase sempre pelo uso de falas e declarações retiradas do contexto maior de onde foram emitidas. Em lugar de estratégias como essas, que consideramos como atentados à ética e à inteligência das pessoas, gostaríamos de instigar aos pastores, igrejas, demais grupos eclesiásticos e civis, o debate franco e aberto, marcado pelo respeito e pela honestidade, mesmo que resultem em divergências de pensamento entre os participantes.
4. A Aliança de Batistas de Brasil é uma entidade identificada com a promoção e a defesa da vida para toda a sociedade humana e para o planeta. Mas consideramos também que é um perigo quando o discurso de defesa da vida toma carona em rancores de ordem política e ideológica. Consideramos, além disso, como uma conquista inegociável a laicidade de nosso estado. Por isso, desconfiamos de todo discurso e de todo projeto que visa (re)unir certas visões religiosas com as leis que regem nossa sociedade. A laicidade do estado, enquanto conquista histórica, deve permanecer como meio de evitar que certas influências religiosas usurpem o privilégio perante o estado, e promova assim a segregação de confissões religiosas diferentes. É mister recordar uma afirmação de um dos grandes referenciais teológicos entre os batistas brasileiros, atualmente esquecido: “Os batistas crêem na liberdade religiosa para si próprios. Mas eles crêem também na igualdade de todos os homens. Para eles, isso não é um direito; é uma paixão. Embora não tenhamos nenhuma simpatia pelo ateísmo, agnosticismo ou materialismo, nós defendemos a liberdade do ateu, do agnóstico e do materialista em suas convicções religiosas ou não-religiosas” (E. E. Mullins, citado por W. Shurden).  Nossa posição está assentada na convicção de que o Evangelho, numa dada sociedade, não deve se garantir por meio das leis, mas por meio da influência da vida nova em Jesus Cristo. Não reza a maior parte das Histórias Eclesiásticas a convicção de que a derrota do Cristianismo consistiu justamente em seu irmanamento com o Império Romano? Impor a influência de nossa fé por meio das leis do estado não é afirmar a fraqueza e a insuficiência do Evangelho como “poder de Deus para a salvação de todo o que crê”? No mais, em regimes democráticos como o estado brasileiro, existem mecanismos de participação política e popular cuja finalidade é a construção de uma estrutura governamental cada vez mais participativa. Foi-se o tempo em que nossa participação política estava confinada à representatividade daqueles em quem votamos.
5. A Aliança de Batistas do Brasil se posiciona contra a demonização do PT, levando em consideração também que tal processo nega o legado histórico do Partido dos Trabalhadores na construção de um projeto político nascido nas bases populares e identificado com a inclusão e a justiça social. Os que afirmam o nascimento de um “império da iniquidade”, com uma possível vitória do PT nas atuais eleições, “esquecem” o fundamental papel deste partido em projetos que trouxeram mais justiça para a nação brasileira, como, por exemplo: na reorganização dos movimentos trabalhistas, ainda no período da ditadura militar, visando torná-los independentes da tutela do estado; na implantação e fortalecimento do movimento agrário-ecológico dos seringueiros do Acre pela instalação de reservas extrativistas na Amazônia, dirigido, na década de 1980, por Chico Mendes; nas ações em favor da democracia, lutando contra a ditadura militar e utilizando, em sua própria organização, métodos democráticos, rompendo com o velho “peleguismo” e com a burocracia sindical dos tempos varguistas; nas propostas e lutas em favor da reforma agrária ao lado de movimentos de trabalhadores rurais, sobretudo o MST; no apoio às lutas pelos direitos das crianças, adolescentes, jovens, mulheres, homossexuais, negros e indígenas; e na elaboração de estratégias, posteriormente transformadas em programas, de combate à fome e à miséria. Atualmente, na reta final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, vemos que muita coisa desse projeto político nascido nas bases populares foi aplicado. O governo Lula caminha para seu encerramento apresentando um histórico de significativas mudanças no Brasil: diminuição do índice de desemprego, ampliação dos investimentos e oportunidades para a agricultura familiar, aumento do salário mínimo, liquidação das dívidas com o FMI, fim do ciclo de privatização de empresas estatais, redução da pobreza e miséria, melhor distribuição de renda, maior acesso à alimentação e à educação, diminuição do trabalho escravo, redução da taxa de desmatamento etc. É verdade que ainda há muito a se avançar em várias áreas vitais do Brasil, mas não há como negar que o atual governo do PT na Presidência da República tem favorecido a garantia dos direitos humanos da população brasileira, o que, com certeza, não aconteceria num “império de iniquidade”. Está ficando cada vez mais claro que os pregadores que anunciam dos seus púpitos o início de uma suposta amplitude do mal, numa continuidade do PT no Executivo Federal, são os que estão com saudade do Brasil ajoelhado diante do capital estrangeiro, produzindo e gerenciando miséria, matando trabalhadores rurais, favorecendo os latifundiários, tratando aposentados como vagabundos, humilhando os desempregados e propondo o fim da história.
Enfim, a Aliança de Batistas do Brasil vem a público levantar o seu protesto contra o processo apelatório e discriminador que nos últimos dias tem associado o Partido dos Trabalhadores às forças da iniquidade.  Lamentamos, sobretudo, a participação de líderes e igrejas cristãs nesses discursos e atitudes, que lembram muito a preparação das fogueiras da inquisição.

Maceió, 10 de setembro de 2010.
Pastora Odja Barros Santos – Presidente

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A Turma Cabra da Peste! Um relato da FTL/B - Rio de Janeiro, junho de 2010

A Consulta Anual da FTL-Brasil-2010, aconteceu no Rio de Janeiro- RJ, nos dias 3 a 5 de junho, com o tema: De Lausanne a Cape Town: Caminhos, descaminhos e novos desafios para a Missão Integral no Brasil. Com abertura na quinta-feira as 14:00h e término no sábado às 12:30.

A turma do nordeste fez a diferença na FTL-Brasil. Palestrantes e participantes expuseram suas posições de uma forma honesta e objetiva. Quando digo honesta e objetiva, é pelo fato de ter havido franca e clara defesa das linhas teológicas assumidas nas falas e provocações nordestinas. Esses adjetivos estiveram presentes em assertivas como: “... Nossa luta é contra os poderosos, as potestades, os aliados de satanás e o Joio doméstico”; ou “... É impossível a Missão Integral abrir diálogo com as religiões de matriz africanas.” Outro exemplo, esse mais propositivo: “... Sinto falta da presença de mais teólogas participando das mesas de debates.”; Qual quer que tenham sido as bandeiras levantadas, a turma “Cabra da peste” manifestou coragem de se posicionar diante de uma plenária “educada” (leia-se perplexa) ao presenciar tais declarações dentro da “casa de Deus”, nesse caso, a monumental Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro.

Peço desculpas pelo tom belicoso, e as palavras como: defesa e bandeira. O registro dos trechos acima não foram os únicos acontecimentos da Consulta Nacional e a FTL-B não foi um palco de acaloradas querelas. Cordialidade, receptividade e liberdade de expressão foram marcas presentes no encontro. E esse é um mérito importante da FTL - Brasil, que merece todo o nosso apreço, consideração e incentivo. Em toda a consulta houve um ambiente onde o discurso teológico pôde ser manifesto com liberdade e ousadia, e por isso foi possível acontecer tais provocações. No tocante a ousadia, ela foi mais explorada pelas preletoras da turma “cabra da peste”, Odja Barros de Alagoas, na mesa de quinta-feira à noite e a Claudia Sales do Ceará, na sexta-feira à tarde. No espaço chamado: Missão integral na prática foram apresentados em data-show os fóruns de debates teológicos fomentados pela Igreja Batista do Pinheiro, Maceió-Al e a caminhada da “Igreja sem portas e janelas” da Comunidade Bultrins, Olinda-Pe, como expressões do avanço teológico do nordeste, e apresentadas por Wellington Santos e Paulo César, também na quinta-feira à noite.

Sou pouco informado para falar de Nordeste e menos ainda de Brasil, no trato das principais linhas teológicas vigentes dentro da FTL, mas tentando não chover no molhado, ou ser demagógico, “pelego” ou equivocado (não acredito que escrevi pelego!), há ainda muito no que avançar como FTL Nordeste e Brasil. A Missão Integral tem paradigmas que precisam ser quebrados, e alguns deles serão através do reconhecimento e do aprendizado com outros grupos que prosseguiram e frutificaram como bem disse Odja em sua fala, que no meu entendimento, apontou para a T.L. Ou o diálogo com as religiões de matriz africana, e seus cultos com ênfase na corporeidade, como falou Cláudia. Entretanto esses verbos, “precisam”, “ser”, e “quebrados” estão flexionados no tempo errado, pelo simples fato, de não haver uma disposição de começar ou avançar concretamente. Há um receio no ar de que qualquer avanço nessa direção abra perigosos espaços liberais. E para o público presente ambos os exemplos citados soaram como liberais, a ponto de que somente outro “cabra da peste” manifestou abertamente o constrangimento presente, se posicionando contrário a qualquer diálogo, com tais matrizes religiosas.

E talvez essa palavra LIBERAL seja a desculpa para que alguns dos expoentes e paispostolos da Missão Integral no Brasil, não queiram reconhecer que possíveis avanços só se darão não só no diálogo, mas também no estreitamento com esses e outros grupos. Penso assim, porque ao que me parece há muito mais uma preocupação em manter uma “identidade e integridade evangelical” (leia-se hegemonia), por conta de haver um temor que tal contato ou contatos tragam danos seriíssimos a nossa caminhada cristã no Brasil, como o que acontece com a Europa cristã desde o século XX (leia-se discurso fundamentalista). Acredito que em alguns setores da FTL, a palavra LIBERAL é falada como sinônimo de adversário, ou “joio doméstico”, citação de D. Robson Cavalcante. Esse é o distintivo para quem quiser buscar fazer contato com “esses totalmente outros”, e aqui tomo emprestado essa expressão para dar-lhe um sentido menos nobre, o de xenofobia. Karl Barth que me perdoe (fazendo o sinal da cruz). A Missão Integral tem todas as ferramentas para se tornar uma das continuidades da caminhada de Jesus, já que os descaminhos do Christus já foram percorridos. Para isso acontecer sugiro que basta ter a percepção de que a Missão Integral não é monolítica ou uma missão monobloco, mas sim Missão integral e acima de tudo, feita de ações que devem estar acontecendo dentro do gradiente de cores, tons, e cheiros que estão presentes nos recortes de nossa cultura brasileira. E assim apresentarmos não mais um cristianismo no Brasil e sim um cristianismo brasileiro. Como em Lausanne, no miolo da Europa capitalista, foi à ousadia de sul-americanos, e entre eles, um brasileiro “cabra da peste”, que proporcionou os olhares para a conjuntura dos cristãos pobres e miseráveis dos países oprimidos e explorados sul-equador (parodiado Paulo Nascimento), foi na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, um dos berços da tradição protestante no Brasil o palco para francas, livres e ousadas imagens sobre um possível aceno a uma caminhada teológica brasileira (que analogia!).

A Direção Nacional do FTL-B está de parabéns pela sua gentileza e cordialidade em receber essa turma “cabra da peste”, pela estadia franqueada na Igreja Presbiteriana de Copacabana, onde fiquei hospedado, e pela complacência de permitir tamanha “zoada” no meio dos formais crentes do sudeste, aos quais têm meus respeitos e amor no Senhor Jesus.



Johndalison Tenório da Silva - Membro da Igreja Batista do Pinheiro e seminarista do Seminário Teológico Batista de Alagoas – SETBAL.

“... O SANTO NUM GOSTA NÃO, FIO!!”

Tenho percorrido prazerosos seis quilômetros diários, em média, para ir ao trabalho. Nas muitas vantagens, além da principal que é a orçamentária, e eu não vou mentir colocando a questão da saúde em primeiro lugar, tenho tido a satisfatória oportunidade de observar, com a velocidade natural que meus olhos foram feitos para acompanhar, as coisas e fatos que estão ao meu redor.

Hoje, passando por um restaurante, notei que sua porta de serviço estava aberta. Para minha surpresa, me deparei com sete pratos abarrotados de pimentas sobre um balcão de alvenaria, que é usado para colocar as refeições para entregas. Aqueles pratos não eram enfeites para as mesas, mas sim talismãs! Parte de um rito de proteção contra agouros, auspícios invejosos, ou seja, o famigerado “mau olhado”. Tubo bem até aí! Na nossa cultura multifacetada há varias bulas para espantar esse e outros tipos de “despacho”, catimbós, pantins, caxinguelês e outros nomes, cada um mais bonito que o outro, eles fazem parte do sopão que forma o nosso anedotário popular, que inclusive são apimentados pelos nossos ditos “palavrões!” Que pelos quais, tenho grande admiração!

Más, vamos ao relato em questão! Uma coisa chamou um pouco mais a minha atenção, se estivesse no ônibus ou de carro (leia-se: Sonho de consumo) se quer conseguiria observar o restaurante, os pratinhos onde às pimentas estavam postas eram de isopor. Desses quadrados que eu e você encontramos nos supermercados e que são embalados em papel-filme. Então, não resisti. E ultimamente se você deixa a bola quicando eu chuto legal! Por isso, fui até o funcionário/proprietário ou proprietário/funcionário, e disse – Ei! Você tá fazendo errado! Com prato de isopor o santo num gosta não, fio! O cidadão não entendeu o que eu disse, e então repeti explicando. – Pra o “coiso” aí funcionar você tem que colocar as pimentas num prato de barro! Para minha surpresa ele exclamou – E ééé!? Pode sê um desses daqui? Mostrando um prato de vidro tipo Duralex. Então respondi. – Pode, pode sim! Só num pode ser nesses pratinhos aí. Não é ecológico! E “o santo num gosta não fio!!”

Tá parecendo piada, mas não é. Fui embora deixando o cidadão decidindo o que fazer. Talvez ele tenha achado que eu estava de brincadeira com ele; Ou que eu era um praticante ou até mesmo um sacerdote, e sou, pelo menos, quero ser! Por falta de um argumento melhor (1Pe. 2,8), ou um charlatão, eu luto para não ser. Enfim, não pude deixar de lado o que vi e transformei aquela situação nesse breve texto onde aproveito e exponho uma inquietação minha.

Nas religiões animistas, o ponto chave da mística ritualística é a interação dos elementos da natureza com o divino. Os atos e ações da divindade terão eficácia por meio desses elementos, eles são os veículos ou caminhos, pelos quais acontece a consumação mística desejada. E esse é um ponto. Como é que o santo iria proteger o ambiente do cidadão se ele fez o ritual com um elemento fora do contexto?! No caso o elemento em questão é o pratinho de isopor. O isopor é um derivado de petróleo, o que é mais danoso do que qualquer “olho gordo”, pois quando as pimentas secarem, quer pelo processo natural, quer pela crença de que elas atrairiam para si os maus fluídos, serão jogados no lixo pimentas e pratinhos. Nas tigelas de barro ou nos pratos de vidro só as pimentas murchas iriam para o lixo. Tigelas ou Duralex seriam reutilizadas até o fim do rito de proteção. Depois voltariam para as guarnições das refeições do estabelecimento. Aproveitando, eu quero fazer um comentário. Não acredito que Iemanjá também goste daquele monte de presentes não biodegradáveis lançados ao mar como oferendas, e que acabam poluindo as praias ou sendo levado pelas correntes marítimas para algum lixão flutuante! Ou que outra divindade de matriz africana, ou de qualquer parte do mundo, goste de alguma oferenda com esses elementos fora de contexto.

Parece que não há relação de uma coisa com a outra. Pimentas, isopor, tigelas de barros, santo, poluição. Não seria surpresa, quem me conhece sabe que eu não tenho um raciocínio linear. (leia-se: Falta de metodologia). Mas juro tentar ordenar as idéias. Vamos lá! Uma tigela de barro é manufaturada artesanalmente, sua matéria-prima sofreu manipulação direta. Os métodos de transformação não passaram por processos complexos, a exemplo da liquefação fracionada, como o que ocorre com os produtos derivados do petróleo que permanecem no meio ambiente por longos períodos de tempo, mesmo depois de inutilizados. Continuando, na manufatura artesanal de objetos religiosos há uma destinação específica. Por mais comercial que seja a produção, o artesão e o fiel tem a certeza de que aquele objeto estará fazendo parte de um culto, de um ritual. Já os objetos de manufatura em escala industrial, como pratinhos de isopor ou plásticos, terão destinação genérica. São descartáveis, sem apego sentimental da parte de quem usa. Podem abrigar um punhado de pimentas ou uma pizza congelada!

Analogamente nós fazemos o mesmo ato falho do cidadão do restaurante, por trazer para dentro de nossos rituais religiosos, tais elementos fora de contexto! É claro que o cristianismo não é uma religião animista ou de ritos tribais de adoração. Se bem que tem muita gente trazendo práticas rituais do AT para seus cultos. Basta você ouvir dez minutos de música ou um pregador em qualquer FM “gospel”. Voltando...! Permitam-me apresentar um exemplo do cotidiano eclesiástico batista, que corrobora a semelhança. Lembro-me dos meus primeiros anos de membro de igreja “devidamente autorizado” a participar da Ceia do Senhor. Um objeto ritual marcante da cerimônia eram os “mini cálices” de vidro. Para alguns, eles reportam, a nostalgia dos bons tempos de um Status Quo de santificação (leia-se exclusão e elitização). Hoje, eles foram substituídos por copo plástico de 50 ml, esses onde usualmente se tomam cafezinhos. Para algumas igrejas foi à alternativa para um acelerado crescimento dos membros, ou a escolha para a celebração da Ceia livre, democrática, escancarada. Bom demais! Há também a questão de higiene... Mas não são esses motivos que me encabulam.

A minha inquietação ao usar esse exemplo, está no uso descuidado do material descartável, ufa! Cheguei onde queira! Quando digo descuidado é porque não estamos preocupados com o meio ambiente. Nós nem pensamos nisso! Não estou falando da sujeira das eventuais manchas de suco de uva, ou de vinhos de R$ 6,89 a garrafa de 750 ml. Más, sim dos inúmeros copinhos espalhados pelos bancos, ou pisoteados nas igrejas, que são colhidos pelos pacientes zeladores e lançados no lixo, junto com tudo o que vier, sem seletividade do lixo. E aí está a minha perturbação, o material está fora do contexto, copos descartáveis! Alguém pode dizer: – isso está parecendo uma apologia fundamentalista em forma de conto. “Os cálices de vidro - o retorno da Ceia ultra restrita.” Mas, não. Não é mesmo.

Deixe-me voltar para a situação do cidadão. Se ele tivesse mostrado um desses pratinhos de papelão que se usa para salgadinhos e falo daqueles sem revestimento plástico, prateado ou dourado, eu diria – Pode, pode sim! Mas não acredito que ele os usa-se. Julgo dizer, que ele os acharia fuleiros demais! Porém, por outro lado, seria uma alternativa barata! Já que acho que essa foi à preocupação que passou pela cabeça dele, por isso foram utilizados os pratinhos de isopor! Agora prosseguindo com o exemplo. Em minha opinião temos que buscar alguma alternativa, não sei se é a mais barata, para substituir os copinhos plásticos. Minha sugestão: Copos descartáveis de papel. Inclusive já há empresas que fabricam, mas prefiro que sejam confeccionados artesanalmente. Se possível pelos membros da comunidade. Não sei exatamente qual o tipo de papel, algum como papel 40, papel madeira, kraft ou cartolina, e com um tipo revestimento vegetal. Não estou falando de papel reciclado! Como disse anteriormente não podemos ser descuidados! O uso de material reciclado, como recipientes para acondicionamento ou para ingerir alimentos é uma roubada. Mini cálices de papel, com formato cônico. Na minha igreja tem até onde encaixa-los! Aqueles “buraquinhos” nas costas dos bancos, herança dos cálices de vidro. Que podemos usá-los sem nenhuma restrição. Democraticamente, escancaradamente para todos e todas tomar seus lugares a mesa.

Com esse amontoado de coisas expostas, e nem sei se consegui organizar as idéias, vou terminar repetindo a frese lá do restaurante, só que desta vez adaptada para nossa religiosidade cristã que não está, lamentavelmente, preocupada com as questões ecológicas dentro das práticas litúrgicas de nossas comunidades.

– Ei! Nós estamos fazendo errado! Copinhos descartáveis de plástico para a Ceia!? Não é ecológico, e Jesus num gosta não fio!!


Johndalison Tenório da Silva é membro da Igreja Batista do Pinheiro e aluno do 8º períiodo do Seminário Teológico Batista de Alagoas - SETBAL!!