segunda-feira, 25 de outubro de 2010

BATE PAPO DE ESCOLA BÍBLICA (LEIA-SE IGREJA BATISTA DO PINHEIRO)


IGREJA E A UNIDADE DOS CRISTÃOS

Por Johndalison Tenório da Silva


INTRODUÇÃO

Disse-lhe João: “Mestre, vimos alguém que não nos segue, expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque não nos seguia”. Jesus porem disse: “Não o impeçais, pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós” (Mc 9.38-40).
O tema Igreja e a Unidade dos Cristãos é uma proposta, provocada pela nossa Prª. Odja Barros para se discutir um pouco sobre ecumenismo e diálogo religioso, minha sugestão é partirmos do seguintes tópicos:
1.                   Que tipo de envolvimento nós queremos ter, como Comunidade, com o ecumenismo?
2.                   Qual a aproximação nós queremos ter com o diálogo religioso (diálogo inter-religioso)?
Quero começa essa conversa com vocês a partir dessas provocações! Não é minha intensão trazer respostas prontas, mas sim, que vocês possam debater o máximo que puderem, para daí surgir algumas possíveis respostas nascidas do consenso, se assim acharem por bem, é claro!
Antes de qualquer coisa, só terá sentido em prosseguir se procurarmos saber o que é ecumenismo e também, saber um pouco, o que seja diálogo religioso.
·                     O Dicionário Aurélio define ecumenismo como movimento que visa à unificação das igrejas cristãs (católica, ortodoxa e protestante);
·                     No Dicionário Houaiss:1 - Movimento favorável à união de todas as igrejas cristãs; 2 - Apelo à unidade de todos os povos contido na mensagem do Evangelho;
·                     A definição eclesiástica, mais abrangente, diz que é a aproximação, a cooperação, a busca fraterna da superação das divisões entre as diferentes igrejas cristãs. Pode-se dizer que o ecumenismo é um movimento entre diversas denominações cristãs na busca do diálogo e cooperação comum, buscando superar as divergências históricas e culturais;
·                     Numa edição especial, a revista Sem Fronteiras (As Grandes Religiões do Mundo, p. 36) descreve o ecumenismo como um movimento que se preocupa com as divisões entre as várias Igrejas cristãs. E explica: Trabalha-se para que estas divisões sejam superadas de forma que se possa realizar o desejo de Jesus Cristo: de que todos os seus seguidores estivessem unidos, assim como Ele e o Pai são um só[i];
·                     Diálogo religioso - É o nome dado, em especial pelas igrejas cristãs, para as suas relações com outras matrizes religiosas. O diálogo religioso é um dos grandes desafios que se apresentam à Igreja, de um modo particular no mundo de hoje, tanto para os que a aprovam como os que dela discordam;
·                     O diálogo religioso pode ser compreendido como o respeito perante outras religiões, o respeito pela escolha de uma matriz religiosa e o respeito no convívio com os que professam e confessam crenças diferentes e discordantes. É o entendimento com os que escolhem uma religião diferente da nossa, tolerância e aceitação mutuas são bases dessa conviência.
Há alguma confusão quando se trata do assunto ecumenismo. É muito comum comparar uma opção ecumênica com o trânsito religioso. Certo entrevistado no Programa do Jô disse ser: Judeu de nascimento, católico de confissão e umbandista de prática. Esse ecletismo religioso, não pode ser considerado ecumenismo. No máximo é uma identidade de dupla ou de multipla pertença relgiosa[ii].
No caso onde estamos nos debruçando, ecumenismo e diálogo religioso são duas formas distintas de convívio religiso e de cerimônia entre comunidades com diferentes profissões de fé. Quando se partica de um culto ecumênico deve se entender que ali está sendo realizada uma celebração onde estão participanto dela, vários recortes do cristianismo. Quando se está participando de uma celebração inter-religiosa, deve se entender que ali se realiza uma cerimônia onde participam várias religiões diferentes. Essas duas formas de relacionamento religioso, tem em comum propostas como: Exercitar a tolerância, alargar a compreensão religiosa, promover odiálogo com o diferente.
Dito essas coisas continuemos... “Puxar a brasa para a nossa sardinha” não é nenhuma novidade no meio cristão. O “ciúme” pelo poder está presente em todos os aspectos da humanidade. Na religião esse “cuidado” se expressa com uma exposição e força peculiares. É comum o sagrado tornar-se um objeto e o divino uma oportunidade de se sobrepor ao outro, ao estranho, ao forasteiro, ao diferente. Movimentos ou instituições religiosas são resguardados constantemente pelos que acreditam que não há outra “verdade” além da sua.
Na caminhada com Jesus, João fazia isso. Em Lucas. 9:54, temos mais um relato da posição, digamos zelosa, assumida pelo “discípulo amado”. Mas ele não foi o único! No Antigo Testamento, em Números 11:23-29, temos o relato da reação de Josué ao saber que outros onde não fora “derramado” o Espírito de Deus, profetizava no meio do povo. Outros exemplos de extremo zelo religioso pelo sagrado, dessa vez, menos misericordiosos por parte dos autores sacerdotais. São eles: Lv. 10:1-2 e I Cr. 13.8-10.
Pergunta:          A adoração de Nadab e Abiú ou a dedicação do desatento Uzá, não eram dignas do Altíssimo?
Voltando para o texto de Marcos 9.38-40. Se observarmos o contexto da época com os “óculos” dos religiosos judeus, iremos perceber que o ministério de Jesus não passava de mais um dos muitos movimentos de milagreiros marginalizado de seu tempo. Sim! Havia outros e outras (as parteiras e curandeiras, por exemplo) que também faziam maravilhas no meio do povo. Podemos identificar duas intenções por trás dessas práticas. A primeira era o lucrativo comércio das práticas medicinais, já que era uma atividade cara e para poucos (Mc. 5:25,26); A segunda é o curandeirismo mágico que arrebanhava seguidores. E nesses casos, as únicas ações de saúde que o povo dispunha saiam dessas pessoas, já que eram desassistidos tanto pelo judaísmo, quanto por Erodes e César (diga-se, o Estado). Jesus estava defendendo esse grupo de milagreiros e milagreiras, na parte final do versículo 39. Enquanto isso, os discípulos estavam preocupados em manter a exclusividade, proibindo quem não era do grupo dos doze a usar o nome de Jesus, pois somente esses haviam recebido o poder direto do Mestre. Eles estavam reproduzindo o que faziam os escribas e fariseus, como no episódio de Mt. 12:9-14. Competir com os sacerdotes de Jeová fazendo milagres no Sábado era uma infâmia.
Pergunta:
Por que expulsar demônios e curar em nome de Jesus de Nazaré eram privilégios únicos e exclusivos dos doze discípulos?
DOIS OLHARES
Tem se repetindo um olhar para os textos bíblicos, como os dos exemplos acima, que defende os autores sacerdotais do AT e o “Discípulo amado”, afirmando que eles estavam sim, querendo mostrar que há diferença entre o santo do ímpio, o sagrado do mundano, o puro do impuro. Esse olhar pertence a corrente mais comum presente em nosso meio cristão. Ele propõe o distanciamento, a separação, a alienação, ou seja, o não convívio com quem não foi “alcançado”, “contemplado”, “santificado”. Há uma frase exclusivista muito comum nos púlpitos, ensinos bíblicos e exortações dos que defendem esse conceito: “Ser santo é ser separado!”
Pergunta: O que significa a final ser santo?
Há outro olhar! O da inclusão que acontece em qualquer tempo bíblico! Os exemplos, no AT de Moisés e o de Jesus no NT são prova disso. Ambos fazem o pedagógico ajuste de pensamento e postura em seus fiéis “escudeiros”, que nesses exemplos são Josué e João. Esse ajuste se chama inclusão, aceitação, participação. Esses textos também nos ajustam diante das diferentes maneiras de se professar a fé cristã. Há também o relato contido em Atos capítulo 10 mostrando que a experiência vivida por Pedro, prova como é difícil perceber e aceitar que há outros e outras com experiências religiosas tão legítimas quanto as nossas (At. 10: 28).
Pergunta:          Por que se torna difícil enxergar o movimento do Espirito Santo de Deus em quem não está incluso ou não professa a mesma fé que a minha ou da minha comunidade?

BREVÍSSIMO RELATO DA TRAJETÓRIA EXCLUSIVISTA CRISTÃ
A proposta de inclusão de Jesus não foi entendida pelos seus discípulos e seguidores, desde os primeiros momentos do movimento cristão. Tomemos como exemplo, Atos capítulo 6. Nas comunidades paulinas havia o problema dos judaizantes. Depois da execução de Paulo, elas estraram em disputas internas por hierarquia e disputas externas por divergência doutrinárias. Mesmo em meio às perseguições do judaísmo e de César, essas comunidades estavam absorvendo e repetindo os conceitos socioculturais da época, tais como: O patriarcalismo e o escravismo. Quando se compara alguns textos de Paulo, vemos a diferença de um para o outro, como por exemplo, no trato para com a mulher, ou o grau de importância dos Carismas da Igreja. Um pouco mais a frente, aparece o cristianismo estatal de Constantino que maquiou a Igreja com as cores do Estado Romano e negociou poderes governamentais entre as lideranças cristãs, em favor da hegemonia política do Império. Os cristãos de perseguidos passaram a perseguir. A Igreja oprimida que acolhia todos e todas, oprimiu, sufocou e excomungou os movimentos julgados “heréticos” que surgiram de tempos em tempos. Avançando, encontramos os combates ferozes de cruzados contra os mulçumanos que banharam de sangue o primeiro milênio da era cristã. Mais adiante, no início do movimento humanista, é que acontece a “Reforma Protestante” do agostiniano Martinho Lutero. Dentro da própria trajetória dos protestantes, a morte era o prêmio dos contrários a “ordem”. Os anabatistas foram um exemplo marcante dessa conduta. A Reforma e a Contra reforma é a ultima e permanente desavença entre os cristãos protestantes e católicos até hoje.
Quero terminar o relato desses retalhos da história de separação e de “exclusividade santa” com uma característica do cristianismo no Brasil. Somos herdeiros diretos dessa disputa e conduta. A nossa cultura evangélica foi forjada no fogo do anticatolicismo[iii], os católicos tiveram a hegemonia religiosa do País por quase quinhentos anos, mesmo após o Brasil se tornar um estado laico, a influência católica estava presente em todas as esferas de poder do Estado Brasileiro. Nossas origens evangélicas foram escritas pelos missionários peregrinos e sua luta fundamentalista contras as forças de Satanás e da igreja católica, perseguidora dos “crentes". Hoje estamos em outro momento histórico. Mas ainda continua o fomento de muitos líderes cristãos evangélicos, que não passaram por nenhuma das perseguições desse nosso passado próximo, e a perpetuar a demonização da Igreja Católica e condenar nossos irmãos e irmãs por suas práticas, rituais e litúrgicas. É de se esperar que tal “gentileza” seja retribuída com mesma paga. Há também uma ala na igreja católica que ainda faz críticas e combate as “seitas separatistas evangélicas”[iv].
Como se tudo isso não fosse o bastante, ainda há os que afirmam serem os verdadeiros seguidores do Senhor Jesus. Os felizes possuidores do galardão celestial. O caldeirão tá cheio, mas ainda cabe mais! Novas denominações e movimentos cristãos surgem. Cada um mais pertinho do céu do que o outro! Mas todos bem distantes do ecumenismo ou de qualquer diálogo religioso. Por outro lado a Igreja católica, de olho na migração de seus fiéis para esses pedacinhos dos céus, contra-ataca com novas roupagens de sua fé. E ambos, os lados usando todos os meios à disposição como, por exemplo, as mídias de massa: Jornais, rádio, televisão e internet. Há algum tempo atrás esses veículos de comunicação eram chamados de caixinhas do diabo! E agora são...
Pergunta:          Não se consegue enxergar outra maneira de adoração, dedicação, serviço, voluntariado, se não for do nosso jeito?!
Pergunta:          Cruz e crucifixo tem Jesus como intercesão?
O ENVOLVIMENTO COM O ECUMENISMO
Para partimos, propriamente dito, do ponto que acredito ser o tronco principal desse texto, vou fazer uma tentativa de abordar panoramicamente o movimento ecumênico, até chegar o mais próximo de nossa comunidade local.
O movimento ecumênico recente tem sua origem nos meados do Séc. XIX pelos protestantes Ingleses. Em 1846, foi criada em Londres a Aliança Evangélica, com a finalidade de congregar as diversas igrejas diante da ameaça de fragmentação do protestantismo. No âmbito católico, o papa Leão XIII promulga a encíclica “Provida Mater Ecclesia” pela reconciliação dos cristãos. Em 1908 nos Estados Unidos é criado o Conselho Nacional das Igrejas. Em 1948 é fundado o Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
O CMI, se reune a cada sete anos, em 1991, em Camberra, Austrália, reuniu mais de 300 Igrejas cristãs e denominações de todo o mundo. É a principal organização ecumênica em nível internacional representando mais de 500 milhões de fiéis presentes em mais de 120 países. O Moderador do Comitê Central é Walter Altmann, brasileiro e luterano, eleito após a IX Assembléia Geral, que foi realizada em Porto Alegre, em fevereiro de 2006. A Rvdª. Ofélia Ortega, da Igreja Presbiteriana Reformada de Cuba, foi eleita presidente do CMI para América Latina e Caribe.
Entre seus membros estão igrejas protestantes e ortodoxas, também algumas pentecostais e independentes. Aliança Batista Mundial, da qual a Convenção Batista Brasileira – CBB é filiada, integra o CMI. A Igreja Católica não faz parte desta organização, mas tem com ela um grupo de trabalho permanente e participa como membro pleno de alguns departamentos, como na Comissão de Fé e Ordem e na Comissão de Missão e Evangelismo.
No Brasil existem vários organismos de natureza ecumênica. O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) é um dos mais importantes e foi fundado em novembro de 1982, com sede em Brasília. Seus membros são: “Igreja Católica Apostólica romana, Igreja Cristã Reformada, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Metodista, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil”. A Convenção Batista Brasileira – CBB não participa de nenhuma organização ecumênica no Brasil. Posição que as Convenções Estaduais mantêm. A participação batista nesses organismos se restringe a poucas igrejas, pastores e pastoras. O único organismo ecumênico batista é a Aliança de Batistas do Brasil. A Igreja Batista do Pinheiro é membro da Aliança de Batistas do Brasil e seu ingresso foi aprovado em assembleia regular. Visto que oficialmente já temos uma posição ecumênica, cabe agora alargar os debates entre vocês participantes da Escola Bíblica da IBP. O propósito desse texto vem para provocar a sua posição em relação ao nosso envolvimento com a causa ecumênica.
Perguntas:
Qual o envolvimento da Comunidade da IBP quer ter com o ecumenismo?
Corremos o risco de perder nossa identidade?
A APROXIMAÇÃO COM O DIÁLOGO RELIGIOSO
O respeito à expressão religiosa. Esse é o eixo central do diálogo religioso. Suas fundamentações estão no exercício da prática do respeito à posição do outro. Temos todo o direito de não aceitar o ponto de vista e de discordar, preferencialmente, com uma respeitosa e fundamentada argumentação do modo como o outro assume sua crença religiosa. Mas digo, que em ultima análise, temos o dever de respeitar a forma como o outro optou sua religiosidade e práticas litúrgicas. O diálogo religioso é em profundidade uma descoberta ao outro. A possibilidade de troca de experiência com o divino no convívio das comunidadades é impressionante. Perceber a fé e a devoção de outros fiéis, não pode ser vista como um engano, mas sim identificação, afinidade, escolha. Os cristãos se arvoram de serem os detentores da verdade e caminho únicos (Jo. 14.6)! Usando versiculos isolados, como esse vão de encontro à religiosidade diferente. Atropela a liberdade do outro, e assim vai cooptando novos adéptos. Há muito mais uma preocupação expancionista do cristianismo, impregnado de preconceito, cultural, racial e principalmente religioso, do que perceber os valores do Reino de Deus em outras religiões. Promover atividades conjuntas de credos diversos, vão muito mais do que celebrações inter-religiosas. Mas, para muitas igrejas cristãs esse é o limite da proximidade do diálogo religioso. E isso tem cheiro de hipocrisia xenofóbica[v] Se teme ser invadio ou contaminado com a fé alheia. Um efetivo diálogo religioso começa com a coragem de fazer contato e de propor em ações em favor dos excluídos em qualquer situação. Em favor da valorização da vida e em favor de mobilizações que beneficiem a sociedade local onde essas comunidades de fé estão inseridas.
Perguntas:
O ato de evangelhizar é “levar” Jesus Cristo o redentor filho de Deus para o incrédulo?
As outras formas que não sejam a nossa religiosidade terão seus adeptos condenados eternamente no inferno por não terem sido alcançados pela a salvação?!
O que é salvação mesmo? Bem, essa pergunta fica para outra conversa!


REFERÊNCIAS
Aurélio Dicionário Eletrônico
Houaiss 3 – Dicionário Eletrônico
http://www.aliancadebatistas.com.br
http://www.cienciaefe.org.br
http://www.jesussite.com.br















[i] Revista Sem Fronteiras, 250 - Ecumenismo cresce e muda história - p. 18.
[ii] É o transito religioso que um indivíduo faz ao migrar a uma nova prática mais confortável, desencadeando um processo de desfiliação em que as pertenças sociais e culturais do indivíduo, inclusive as religiosas, tornam-se opcionais e, mais que isso, revisáveis.”
                                                                                                              PIERUCCI, A.F. A encruzilhada da fé.
[iii] O anticatolicismo é uma forma de discriminação, de hostilidade ou preconceito contra a Igreja Católica Romana.
[iv][iv] A Igreja Católica Apostólica Romana crê que a Reforma Protestante, foi um movimento separatista chamado de: A Segunda Grande Cisma Cristã. E dele nasceu várias seitas cristãs.
[v] Houaiss – Adjetivo que demonstra temor, aversão ou ódio aos estrangeiros, ou à cultura estrangeira.

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